sexta-feira, 11 de março de 2011

Memória da Casa dos Mortos

   Semana passada, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a entrada do Brasil no grupo das 7 economias mais desenvolvidas do Mundo. A notícia aqueceu as ações das empresas brasileiras e extrangeiras que investem no Brasil, e fez o risco Brasil despencar, tornando o país mais seguro para investimentos.
    Quem de nós brasileiros não nos sentiria orgulhosos em vermos nosso País avançar em direção ao progresso? Imediatamente lembrei-me de uma cena vivida em Paris, em 2008, quando assistia uma palestra na Sorbonne. Ao discutir a ascenção dos paises subdesenvolvidos, o professor esnobou a afirmação de um estudante brasileiro presente na conferência, num flagrante delito de preconceito, pelo simples fato daquele aluno ser brasileiro. Indignado como todos nós daquela platéia, um estudante americano bradou em auto som reprovando a atitude infeliz daquele professor.
- Pardon Professeur, mas o senhor foi infeliz na sua piada de mau gosto. Qualquer estudante aqui, seja de que nacionalidade for, merece nosso respeito. O País do senhor é um país do passado. O meu, USA, o País do presente. E o País do Paulo, o Brasil, será o País do futuro.
    O Professor nada disse e anuniou o momento do intervalo. Um americano nos devolveu o ar dentro daquela sala, que por um momento foi usurpado pelas palavras infelizes de um professor arrogante e preconceituoso. Depois da conferência, Paulo e todos nós brasileiros recebemos os comprimentos de todos, num gesto de respeito e solidariedade.
    Pois bem, ao ver o Ministro dá aquela notícia, a sensação que tive foi a de que o futuro acabara de chegar. Que de uma vez por todas teriamos nosso lugar ao sol.
    Ontem, 10 de março, depois de ter quebrado o braço, levei meu sobrinho ao Hospital Regional do Agreste, na cidade de Caruaru. Chegamos aquele hospital por volta das 08:00 Hs da manhã, depois de ter passado na UPA. Oque seria uma simples redunção e a recolocação do osso no lugar se tornou um drama. A criança de 9 anos foi encaminhada para emergência onde seria atendida junto como outros casos, alguns deles de alta gravidade. A criança ficou no corredor das 08:00 até as 19:00 horas, sem comer e sem beber um gole d'agua, pois o procedimento que iria ser submetido não permitia.
      Durante seu calvário, muitas vezes chorando de fome, sendo alimentado por soro, a criança via cenas dramáticas. Pessoas chegando com facadas, tiros, fraturas expostas, e muitas delas em estágio terminal. Aparentemente xocado,o menino me perguntou. - Tio, essas pessoas não deveriam ficar no quarto? - Sim meu filho, só que não tem quartos suficientes para acomodar todos, respondi.
     O tempo foi passando e um sentimento de indgnação foi me tomando. Como uma criança pode ficar esse tempo todo sem atendimento? Fome, dor e cenas lamentáveis. Fui a ouvidoria três vezes denunciar aquele horror.
      Pacientes se amontoavam pelos corredores sem atendimento. Muitos chegavam e eram jogados. Depois de horas é que chegava alguem pra perguntar o que sentiam. Outros estavam alí, nos corredores há dias, esperando atendimento. Perguntei a uma filha angustiada, que cuidava do seu pai, há quanto tempo estavam alí, e qual era o problema de seu pai. Era a bacia quebrada há 7 dias. O senhor fizia suas necessidades visiológicas ali mesmo, com o apoio de uma garrafa peti de refrigerante cortada ao meio, pela sua própria filha. Outros depositavam seus excrementos em suas roupas.
      Aquelas imagens me fizeram lembrar da agonia vivida por Dostoiévski numa prisão na sibéria, contada no livro Memória da Casa dos Mortos, onde pessoas eram acossadas moralmente, amontoadas como lixos e maltratadas como porcos e bichos. Na Sibéria era uma prisão czarista, em caruaru um hospital. Lá século XIX, aqui Século XXI, uma semana depois do Brasil ter entrado no seleto grupo dos 7 países com econômias mais fortes do Mundo.
          
      
    
        

Um comentário:

  1. Concordo plenamente,com as comparações e considerações.Infelizmente nossos impostos continuam sendo mal admnistrados."Mudam" os governantes e nada de concreto e verdadeiro em prol dos menos disprovidos é realmente feito.

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