Hoje eu vinha com a faca nos dentes, mas mudei de ideia.
Cansei de falar em golpe, e tenho a impressão que a
atmosfera de terceiro turno arrefeceu.
O fantasma do golpe foi esmagado pelo próprio desespero da
mídia.
A tese que ventilei por aqui, de que Dilma sairia
fortalecida desse escândalo, como a presidenta republicana que permitiu a
investigação a fundo de problemas históricos de corrupção em nossa maior
estatal, está se confirmando.
A mídia bem que tentou, mas não conseguiu colar no escândalo
o carimbo “Exclusivo PT”.
Ele atinge todos os partidos e todas as grandes
empreiteiras.
Empreiteiras estas que fazem obras em todas as prefeituras e
em todos os estados brasileiros, governados por todos os partidos.
Empreiteiras que também financiam a grande mídia.
A imprensa alternativa, os blogs, nunca levaram um centavo
das empreiteiras.
A grande imprensa levou bilhões.
O escândalo da Petrobrás atinge toda a classe política, e em
especial os principais partidos, a começar pelo PSDB.
Por exemplo, o maior corrupto do “petrolão”, até o momento,
é um senhor chamado Pedro Barusco, que prometeu devolver US$ 100 milhões aos
cofres públicos.
Ele era subordinado a Henrique Duque, que a imprensa quer
vender apenas como “ligado ao PT”.
Ora, Duque está na Petrobrás desde 1978. Desde 2000, era
Gerente de Contratos da área de Exploração e Produção.
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Sobre Barusco, não encontrei sua biografia, mas é
sintomático que ele, logo após se aposentar, tenha ido dirigir a área de
operações da Sete Brasil, a poderosa companhia responsável por fornecer sondas
de exploração para a Petrobrás.
Quem é o principal acionista da Sete Brasil? O banco BTG
Pactual, cujo dono é o tucano André Esteves, o qual, segundo reportagem do
Globo, pagou a viagem de lua de mel de Aécio Neves e esposa.
Descobriu-se também que Gilmar Mendes, quando advogado geral
da União, nomeado por FHC, defendeu exatamente o que se tornou a fonte maior de
corrupção na Petrobrás: a realização de contratos sem licitação. Mendes também
não ofereceu nenhuma proposta para aumento da transparência.
Hoje Mendes posa de paladino da ética na grande imprensa,
bravateando frases de efeito.
Não é possível partidarizar o escândalo.
A ladainha da mídia, de que tudo é culpa de PT, não cola
mais.
Não se combaterá a impunidade no país prendendo-se
exclusivamente petistas.
Que se condene e prenda os petistas corruptos!
Mas será que nunca veremos um tucano preso?
Até quando o PSDB seguirá sendo blindado pela mídia, pelo
Judiciário e pelo Ministério Público?
Sonegação, helicóptero com meia tonelada de pó, assassinato
de modelo, afundamento de plataforma, compra de reeleição, privataria,
construção de aeroporto em terras da família, ossada humana em fazenda.
Não faltam escândalos tucanos!
Mesmo o que a mídia chama de “petrolão”, tentando quase
infantilmente repetir o case de sucesso do “mensalão”, começou em 1999, ou
seja, logo após a reeleição comprada de FHC!
Por isso, é tão bem vindo o artigo do empresário tucano
Ricardo Semler, publicado na Folha de hoje.
Semler reitera que o mérito pelas investigações atingirem a
profundidade que se vê, pegando peixes graúdos da estatal e do setor privado, é
da presidenta Dilma.
“É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer
presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria
tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio
governo.”
(…)Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num
momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos
que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.”
O tucano, num corajoso ataque à hipocrisia da nossa mídia,
afirma ainda que a corrupção não se limita a empresas públicas.
“O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender
para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para
o diretor de compras.”
O que se espera das pessoas cujo bom senso ainda não foi
devastado pelo ódio partidário, é um pacto pela democracia, dando tempo e
espaço para a presidenta Dilma concluir o processo de depuração da Petrobrás.
Ela prometeu em sua campanha que não “sobraria pedra sobre
pedra”.
É o que está acontecendo.
Passada a tempestade, o Brasil sairá mais forte e mais
limpo.
A Petrobrás adotará protocolos mais transparentes e seguros
para impedir a corrupção, deixando para trás o afrouxamento das regras imposto
por FHC e defendido por Gilmar Mendes.
Não há mais clima para golpe.
Até mesmo as paranoias sobre um suposto golpe no tribunal
eleitoral, a ser dado por Gilmar Mendes, me parecem agora infundadas.
Agora só falta o governo fazer as mudanças que todos
esperam, a começar pela comunicação.
Ontem o presidente Obama anunciou medidas que protegerão
mais de 5 milhões de imigrantes ilegais nos EUA.
Assistindo a alguns canais de TV fechada, zapeei pela Fox,
onde âncoras republicanos atacavam a iniciativa, e pela MSNBC, onde analistas
democratas a defendiam.
Em todos os canais, porém, o presidente Obama tinha espaço.
Ele aparece falando, longamente, explicando sua política.
Na MSNBC, a âncora entrevista um dos secretários de imprensa
da Casa Branca, um gordinho simpático e bem humorado.
Aí eu fiquei pensando novamente que o governo brasileiro
deve ser o único do mundo que não tem um porta-voz, não tem um secretário de
imprensa, não tem ministros políticos, não tem um relações públicas.
E a imprensa brasileira é a única do mundo que censura o
próprio governo do país.
A quem interessa esse tenebroso apagão político do governo?
Esperemos que o escândalo da Petrobrás, onde a mídia, em
especial a Globo, ainda tenta construir uma narrativa diabólica, sirva ao menos
para que o Executivo acorde para a necessidade de construir canais mais
democráticos de comunicação com a sociedade.
Informação de qualidade e acesso ao governo eleito são
direitos humanos e políticos de todo o brasileiro.
Não adianta o Mercadante dar entrevista à Miriam Leitão, na
Globonews, uma tv fechada à qual poucos brasileiros tem acesso.
É preciso ocupar, democraticamente, as tvs abertas, as
rádios, e as redes sociais, e combater o mal do novo século: a desinformação.
O Cafezinho
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