Prezada Luciana,
Meu voto era seu até semana passada.
Mudei de ideia, porém, isso nada tem a ver com a senhora.
Continuo com a certeza de que tu és a melhor candidata.
Com seu jeito gaúcho de chamar as coisas pelo nome, o apoio
a todas as causas progressistas, que só permanecem polêmicas em países
atrasados. A defesa do imposto sobre grandes fortunas, do fim do fator
previdenciário, por dizer não à independência do Banco Central.
Por impedir que empreiteiras, bancos e multinacionais
participem de sua campanha.
Por ter como principal compromisso o combate à desigualdade
e por apresentar propostas radicais para combatê-la.
Radicais por atingirem a raiz do problema.
Nesse sentido, és radical, mas não extremista, ou mesmo
comunista. E nisso acredito que te diferencias dos outros candidatos à esquerda
do PT que sonham em acabar com o capitalismo e não em transformá-lo.
Mas estás além dos rótulos, por representares algo novo.
Socialismo e liberdade, afirma o teu partido logo no próprio
nome, e assim se distancia das experiências totalitárias que deturparam o pensamento
marxista no século XX.
E em ti eu acredito.
Chego a vibrar muitas vezes, muito mais do que com qualquer
outro candidato.
Sua enquadrada em Aécio Neves no debate em que o tucano
falava sobre corrupção, falta de ética, e esquecia que o PSDB comprou a
reeleição de Fernando Henrique, foi espetacular. Sugerir ao Danilo Gentili que
ele volte aos estudos também.
Por tudo isso, o meu voto seria seu, não fosse um único
ponto em que discordamos e a força das circunstâncias.
Não acho que Dilma, Marina e Aécio são iguais.
Podem estar muito mais próximos entre eles do que em relação
a sua candidatura. Mas Marina e Aécio estão mais distantes.
São candidatos neoliberais e de direita.
E nisso concordo com Rodrigo Constantino, aquele colunista
que disse esses dias que qualquer pessoa que vote em ti é idiota. A direita
devia se assumir como direita e parar de tentar fingir ser o que não é para
agradar aqueles que Rodrigo chama de “esquerda caviar”.
Segundo o colunista, a direita pode sim ter força para
eleger um presidente, desde que se assuma como direita.
E isso pode acontecer com Marina ou Aécio, nunca com Dilma.
E acredito que muito graças a sua candidatura e a tudo o que
disseste para demonstrar que na verdade és tu quem representa a mudança, as
Jornadas de Junho, a nova política, e não Marina, Dilma pode ganhar no primeiro
turno.
Peço então que me entendas, que não fique magoada caso as
urnas não lhe tragam tantos votos quanto tu mereces.
Deve demorar um pouco para o Brasil ter uma presidente como
tu. Mas estamos ainda sob risco de colocar a direita no poder, ou uma incógnita
que pode ou não ser de direita.
Voto então em Dilma porque, infelizmente, ela é a única
candidata que pode evitar que isso aconteça já nesse domingo e, admito, tenho
pressa.
Porque talvez, depois dessa campanha e inspirada por ti,
Dilma tenha a coragem que lhe faltou no primeiro mandato para ir além, para aprofundar
o combate à desigualdade, para garantir os direitos humanos, o estado laico e a
liberdade.
Todas as propostas que tu defendeste tão bem e que Dilma
parece muito mais disposta a abraçar do que Marina ou Aécio.
Voto então em Dilma porque queria que tu fosses eleita, mas,
infelizmente, ainda não é possível. Porque votar em ti ajuda a direita a chegar
ao segundo turno.
Porque Dilma, no atual sistema, com a Câmara e o Senado que
devem se formar, continua a ser o que tem para hoje.
Por tudo isso, meu voto é dela, mas meu coração é seu.
E que o futuro nos reserve dias melhores. Circunstâncias
melhores para votar em ti e para que possas governar como pretendes.
Espero que me entendas.
Com pesar e gratidão,
Leonardo Mendes.
Diário do Meio do Mundo
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